terça-feira, 10 de março de 2015

Meu verso é simples, pobre como eu.
É cachaceiro em madrugada; caminha embaralhado.
É caído, jogado. Sujo, pisado,
cuspido e esporrado.

Meu verso é docemente pornográfico.
Verso pelado; corpo nu noutro corpo nu.
Arrepia os pelos e enche os olhos de água –
feito boca molhada no calor do corpo.
Meu verso saliva e faz salivar.

Depois aperta o peito quente; machuca.
Algema as nossas mãos, sussurra no ouvido
E chicoteia.
Meu verso é profano, é pecador.
Regado à libido. Banhado em sangue e sêmen.

É verso para os poucos que se permitem.
Verso sem moral e bons costumes.
Fora das tradições. Desregrado.
Meu verso é cotidianamente livre de padrões
E estereótipos. Por isso ele incomoda e cutuca.
Ao passo que ama, sofre, protesta
E goza.

[ r ] e x i s t ê n c i a

O Medo está nas capas dos jornais
na tevê, no rádio, nas ruas –
Tem cúmplices e defensores.
Ele está em todo lugar, menina.
Desde os verbos dos inocentes que o gritam lá fora
às câmeras de vigilância que não vigiam nada.

O Medo tem assaltado vidas, cegado pessoas.
Há quem não ama por medo
quem não transa, não fala, não pensa
não existe
ou por que não consegue
ou por que não permitem.

Entretanto, menina, somos mais fortes.
Ele tem armas
Nós temos amor.
Ele tem fama
Nós a força.
Ele ódio,
Nós
Resistência.

domingo, 10 de agosto de 2014

FILHOS DO MEDO


                                        “Em verdade temos medo.
                                   Nascemos escuro.”
(C.D.A.)


Nós somos os filhos do medo.
A noite, por mais que nossa,
Assusta nossos pais, os apavora.

Os disseram que é preciso dormir.
E eles dormem, por medo.
Falaram que é preciso calar.
E de medo eles se paralisaram.

Estáticos e medrosos.
Temem a política, o preto,
O pobre, o bêbado.
O Homem. O Deus.

E nós  filhos do medo   
Nada tememos.
Saímos à noite, entre pretos e brancos,
Junto aos ricos e miseráveis.
Brindamos com homens e mulheres,
Zombamos de Deus. Caçoamos do medo.

Até que a Polícia Medrosa vem nos assustar.
Mas não nos intimidaremos, nem paralisaremos.

Apavorados gritaremos música e dança.
Até que a noite seja clara
E turbulência  seja calma.
Até que o preto seja igual ao branco
E o homem seja a mulher
E o medo seja lembrança
.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


CHEIO DE VOCÊ

Atordoado a cumprir o desígnio de existir
Na loucura infinita que é externa a mim,
Mas loucamente clama por ser interna
Em meu peito, em meu ser, vazio ser,


Cheio de você, de vontades, de viagens
Estranhas que se misturam com devaneios
E, de repente, me retomam a lucidez
Existente em teus lábios, em teus olhos


E teu corpo, calmo e quente de arrepios
Me levando à vertigem, à margem 
Da loucura que agora, depois de tanto lutar,
É interna e comanda meu peito


Cheio de você, porém saciado, 
Te amando crua, coberto pela loucura
Resultante da nudez do seu corpo
Quente sobre o meu.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

27/12/2012



Sobre o sorriso dela que não era pra mim.



Da boca dela roubei o sorriso.
Tão lindo, fiz dele meu.
E mastiguei, degustei e engoli.

Em meu estômago o sorriso fez-se ira.
Não era meu de verdade.

Indigestão.
 

sábado, 22 de dezembro de 2012




Contato.

Toda a pele crua.
A alma toda nua.

A luz da casa, lua.
O corpo meu, sua.

A mão em mim, tua.
Sua voz, sussurra.

Teu peito, em mim, fura.
Tua carne, em mim, cura.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Satã que há em meu Deus.

Deus que me induz a bondade
Proteja-me de sua maldade.
Livrai-me do seu castigo,
Pois prefiro o amor ao temor.

Que eu ame ao próximo,
Mas não cometa pecado.
E que meu amor não desperte tesão.

Se tu és bondade,
Por que tão rigoroso?
Se não posso provar do que é gostoso.
Por que este me induz ao gozo?

E por onde anda a liberdade
Em servir a ti?
Deus, Pai, todo poderoso.
Por que existe o mal se todo o poder é teu?
Ou o mal é só mais uma face de Deus?

sábado, 24 de novembro de 2012


O Estranho da Rua Direita


Proseei.
E toda a prosa fora insuficiente.
Seus olhos não vi,
Seu nome esqueci.
Sua voz guardei.
A barba, a roçar-se em mim; desejei.
Almejei que, ali, o tempo estagnasse.
Mas, findou-se.

terça-feira, 24 de julho de 2012